Quantas vezes, tia Rosa,
te sentaste ao lado de mim.
Quantas vezes me ias ver,
quando estava doente.
Quantas vezes me disseste:
- Maria, tinha um filho(a),
se tivesse escapado,
tinha a tua idade.
Quanta amargura sofreste.
Quantas vezes,
trazias a tua renda e vinhas,
vinhas ter com minha mãe.
Que saudades tia...
a tua alegria, o teu cantar,
a sesta que dormíamos,
quando vocês iam à costa,
ao poço ou à lenha,
para virem fazer massa.
Sim é que neste tempo,
vocês juntavam-se com as vizinhas,
faziam bolo, sim bolo de milho,
todas juntas.
As dificuldades eram muitas...
mas havia mais união,
mais interajuda.
Não era tudo pago a dinheiro.
Ficavam com os filhos de umas das outras
para estas poderem sair,
ir mesmo trabalhar nas terras.
Ir à costa, pescar para o sustento diário,
ou então apanhar umas "caramujas",
para fazerem o molho afonso,
que toda a família saboreava à noite reunida.
Tudo isto tia e muito mais prendem-se
ao meu coração, saudades...
recordações...
...daqui te envio beijinhos para o Céu,
querida tia.
peregrina 2010.05.28