Oh homem,
"Não destruas o que não fizeste."
Sólon
Sabes,
tenho saudades!!!
Sim,
muitas saudades!
Lembras-te,
quando desbravas-te aquele mato?!
e fizeste a vinha,
sim, a vinha que cultivo hoje.
E lembras-te,
daquela laranja?!
Sim,
aquela que (d)escascavas para mim?!
Lembras-te.
Tu punha-la numa tigela,
ao bocadinhos,
e juntavas-lhe o adoçante,
o açúcar.
Depois,
comia-a, com bolo
sentada no chão,
junto de ti.
Tu, sempre diligente,
cheio de paciência
e vontade, continuavas
o teu trabalho.
Vi-te colocar todo o estuque
no quarto de jantar,
sabes,
na parede da prateleira do relógio.
Ah, e lembras-te,
de me sentares na vinha,
sobre uma cepa,
a ver-te trabalhar.
E dizias:
és a minha companhia!
Fica aqui quietinha
enquanto o pai vai despejar o cesto.
E ias continuando,
ora aqui, ora ali,
juntando pedra.
Retocando as paredes,
completando os abrigos.
Era uma vinha perdida,
que então era o teu quintal,
e que aos poucos,
diligente, foste trabalhando.
Lembras-te,
de entre essas pedras,
fazeres as hortas,
sabes, "a de fora", junto ao caminho.
E "a detrás de casa",
como dizias,
essa vi-te fazê-la,
como também vi, acabares o maroiço.
E mais...
Lembras-te
quando me sentavas no joelho,
de(s)bulhavas a maçaroca assada
e metias na minha boca.
E daquela boneca,
sabes,
era do tamanho de um dedo.
mas era a única que eu tinha.
Não me lembro quem deu.
Só sei que por muito tempo,
foi só essa,
o brinquedo que recordo.
Tinha eu três anos,
lembras-te,
a mãe foi para o Faial,
com a mana para o hospital.
Fiquei só contigo.
Em casa da avó Aniquinhas.
Aqui não me recordo bem,
talvez ias trabalhar.
Passava o dia com a avó,
brincava com a Maria Alice,
da Tia Zulmira.
No cantinho do tanque d'avó,
fazia uma casinha.
Era aí o lugarinho de brincar.
Brincava, brincava,
a felicidade pairava,
pairava a inocência,
o mundo era belo.
Não havia nostalgia.
era tudo, tudo felicidade
era tudo, tudo alegria.
Agora fica a doce saudade.
Pai, agora fica a recordação.
agora fica a vontade,
pai, querido pai...
de abraçar-te,
agora. A saudade é morta
nesta doce recordação.
Beijinhos, pai!!!
Beijinhos para a eternidade
hoje, no dia que farias,
se fosses vivo, 86 anos.
Obrigado por tudo ,
tudo o que me ensinaste,
por tudo o que me deste,
por tudo, tudo, pai.
peregrina