O desafio dos nossos dias...

04
Abr 11

Oh homem, 

"Não destruas o que não fizeste."

Sólon

publicado por emcontratempo às 16:59

 

 

Sabes,

tenho saudades!!!

Sim,

muitas saudades!

 

Lembras-te,

quando desbravas-te aquele mato?!

e fizeste a vinha,

sim, a vinha que cultivo hoje.

 

E lembras-te,

daquela laranja?!

Sim,

aquela que (d)escascavas para mim?!

Lembras-te.

 

Tu punha-la numa tigela,

ao bocadinhos,

e juntavas-lhe o adoçante,

o açúcar.

 

Depois,

comia-a, com bolo

sentada no chão,

junto de ti.

 

Tu, sempre diligente,

cheio de paciência

e vontade, continuavas

o teu trabalho.

 

Vi-te colocar todo o estuque

no quarto de jantar,

sabes,

na parede da prateleira do relógio.

 

Ah, e lembras-te,

de me sentares na vinha,

sobre uma cepa,

a ver-te trabalhar.

 

E dizias:

és a minha companhia!

Fica aqui quietinha

enquanto o pai vai  despejar o cesto.

 

E ias continuando,

ora aqui, ora ali,

juntando pedra.

Retocando as paredes,

completando os abrigos.

 

Era uma vinha perdida,

que então era o teu quintal,

e que aos poucos,

diligente, foste trabalhando.

 

Lembras-te,

de entre essas pedras,

fazeres as hortas,

sabes, "a de fora", junto ao caminho.

 

E "a detrás de casa",

como dizias,

essa vi-te fazê-la,

como também vi, acabares o maroiço.

 

E mais...

 

Lembras-te

quando me sentavas no joelho,

de(s)bulhavas a maçaroca assada

e metias na minha boca.

 

E daquela boneca,

sabes,

era do tamanho de um dedo.

mas era a única que eu tinha.

 

Não me lembro quem deu.

Só sei que por muito tempo,

foi  só essa,

o brinquedo que recordo.

 

Tinha eu três anos,

lembras-te,

a mãe foi para o Faial,

com a mana para o hospital.

 

Fiquei só contigo.

Em casa da avó Aniquinhas.

Aqui não me recordo bem,

talvez ias trabalhar.

 

Passava o dia com a avó,

brincava com a Maria Alice,

da Tia Zulmira.

No cantinho do tanque d'avó,

fazia uma casinha.

Era aí o lugarinho de brincar.

 

Brincava, brincava,

a felicidade pairava,

pairava a inocência,

o mundo era belo.

Não havia nostalgia.

era tudo, tudo felicidade

era tudo, tudo alegria.

 

Agora fica a doce saudade.

Pai, agora fica a recordação.

agora fica a vontade,

pai, querido pai...

de abraçar-te,

agora. A saudade  é morta

nesta doce recordação.

Beijinhos, pai!!!

Beijinhos para a eternidade

hoje, no dia que farias,

se fosses vivo, 86 anos.

 

Obrigado por tudo ,

tudo o que me ensinaste,

por tudo o que me deste,

por tudo, tudo, pai.

peregrina

publicado por emcontratempo às 11:46

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