Por aqui, na minha aldeia, passava de vez em quando, um velhinho de São Jorge de apelido Tio Sabino.
Pobre velhote, por certo inofensivo vinha sempre descalço e com um saco de serapilheira às costas.
Então quando éramos pequenas, e não queríamos comer:
- Olha que aí vem o velho do saco, replicava a avó, replicava a mãe.
Ou então se era para dormir as mães e avós ameaçavam o nosso infantil medo com o "velho do saco",
história por certo já antiga, que fora por elas personalizada no Tio Sabino.
Ao que ficávamos quietinhas, mesmo que sem dormir, até que o sono viésse.
Pois que ele não percebendo o barulho, passásse sempre.
Contavam, que ele nos punha dentro do saco e levava consigo, para onde não sei.
Ele, o tal velhinho, até era simpático.
Nós é que não queríamos lá muito contacto com ele, pois amedrontava-nos.
Sabendo que ele existia de verdade, é que tudo piorava.
Não era nenhum conto da mãe ou da avó, para nos aquietármos e dormirmos, era mesmo verdade, pois até já o havíamos visto.
Pois este velho era um papão para mim e para toda a rapaziada pequena da minha aldeia.
Quantas vezes tive que comer toda a sopa, sossegar e dormir debaixo daquele medo, para que ele não me levásse.
Então se era de noite, vislumbrávamos o dito velhote a cada canto.
Assustádos aquietávamo-nos.
O sono chegava.
Afinal, de barriguitas cheias de sopa, era mais que natural que o sono batesse à porta.
E mesmo com a algazarra que fazíamos o sono vinha.
Mais não fora o susto do velho, para ali ficávamos inertes até de madrugada.
peregrina 2011.10.10