Não passes com ela à minha rua
No fim de tantos anos de ser tua,
amas-te outra, casas-te foste ingrato.
Vi-te passar com ela à minha rua,
abracei-me a chorar, ao teu retrato.
Podia-te insultar quando te vi,
ferida neste amor supremo e farto,
vinguei-me a chorar, choro por ti,
por entre as persianas do meu quarto.
Mas olha, meu amor, eu não me importo,
antes de seres dela, eu já fui tua.
Podes passar sózinho à minha porta,
mas não passes com ela à minha rua.
Fui tua companheira muitos anos,
mas isso pouco importa, isso que tem.
Se o mundo é feito é só de enganos,
o mal anda no mundo a rir-se do bem.
Não penses, não meu amor,
é tarde para ganhar o que perdi.
Não te posso abraçar porque és casado,
abraço-me ao teu retrato e penso em ti.
Não penses, não penses, meu amor
esquece-te de mim que é o bastante.
Já que não servi para ser tua mulher,
também não hei-de ser a tua amante.
Fui tua companheira dedicada,
no entanto, meu amor, vê como eu sou,
sei bem quanto custa a ser roubada,
não quero roubar quem me roubou.
Não voltes, não voltes, meu amor,
Esquece-te de mim que é o bastante.
tens a tua mulher, tens o teu lar,
que vale muito mais que uma amante.
Casaste, serás feliz, Deus te proteja,
só te desejo amor e tanto assim,
nunca tive ciúme, nem inveja,
como a tua mulher teve de mim.
Não voltes, não voltes por favor
Casaste-te, obrigaram-te a casar.
se a tanto te obrigaram, meu amor,
agora que te obriguem a gostar.
(Versos que minha mãe cantava, no tempo dela.
São versos da autoria de Carlos Conde.
No entanto foram feitas algumas alterações.
Adaptadas a teatro amador que foi feito nas Sete Cidades.)